Quinta, 16 de Setembro de 2010

Curso de saúde bucal e os ciclos de vida

Ao contrário de simples desleixo com a higiene, a queda do padrão de saúde bucal pode ser uma pista de que alguma alteração importante está acontecendo na vida do paciente e tende a afetar outras áreas da sua saúde.  O assunto será tema do quinto módulo do curso de educação continuada do Programa Cárie Zero, da Secretaria Municipal da Saúde, que abordará a Atenção em Saúde Bucal e os Diferentes Ciclos de Vida. O evento acontecerá nesta quarta-feira (15), no Salão de Atos do Parque Barigui, com palestra do dentista da Unidade de Saúde Capanema e especialista em Saúde da Família Lincoln Luciano da Silva.
 
Segundo a coordenadora do Programa de Saúde Bucal da Secretaria Municipal da Saúde, Ana Cristina Allegretti, o objetivo do curso é chamar a atenção dos profissionais da área para a importância da abordagem do paciente não se resumir às suas necessidades clínicas atuais. “Nunca é demais frisar que, além do tratamento da cárie ou de outra doença bucal que ele tenha, é necessário conhecer o conjunto de fatores que podem ter contribuído para isso. Mais do que evitar que ele reincida no problema, , esse paciente poderá ser encaminhado para receber suporte de médicos e psicólogos”, explica.
 
O caso da agente comunitária de saúde Maria Joseli Malaquias, da Unidade de Saúde Capanema, é um exemplo de quebra do ciclo de vida. Quatro meses depois de perder o marido num acidente de carro, de apenas 33 anos, foi a vez de ficar ao lado da cama do filho Júlio César, então com 11 anos, internado depois de ser atropelado. Tentando superar a perda do marido e acompanhando o filho sob de risco de morte, Maria Joseli não cuidava mais de si e a saúde desandou. Responsável por ajudar a equipe da Unidade a zelar pela saúde dos vizinhos do bairro, a agente viu lesões iniciais de cárie apareceram em vários dentes que, segundo ela, também ficaram moles. A depressão acompanhou o quadro.
 
A dentista Célia Lensi, responsável pela paciente, explica que a cárie é uma doença multifatorial compatível com situações de estresse intenso. “O estresse altera a acidez da saliva, que precisa ser controlada para normalizar o meio bucal e prevenir as cáries. Não é apenas a boa higiene que conta”, explica a dentista, que indicou aplicações de flúor até a normalização do estado emocional da paciente, possível com a ajuda de profissionais de saúde de outras áreas da equipe.
 
Experiente, conta Célia, o estado de saúde bucal revela muito mais do que dentes íntegros ou estragados. Um tipo característico de cárie, próxima à gengiva, informa que a profissional está diante de um paciente consumidor de drogas. Além de recuperar os dentes, precisa de cuidados específicos de saúde mental. Pacientes com esse perfil são trabalhados de forma cuidadosa, para tentar a adesão à proposta e evitar que desapareçam da Unidade de Saúde.

Do mesmo modo, ilustra a dentista, queixas de dor de dente em crianças pequenas, relatadas por familiares ou outros cuidadores, podem ser o sinal de que elas não estão sendo cuidadas como deveriam. Também nesses casos os dentistas acionam a equipe que, em alguns casos, precisa levar o problema à Rede de Proteção à Criança em Situação de Risco.

Além de sinalizadores de problemas de maior gravidade, as mudanças no padrão de saúde bucal podem indicar fases novas da vida. A gestação, em que as mudanças exigem que a mulher permaneça atenta à escovação dos dentes e a alterações no meio bucal, é uma delas e deve ser um período de parceria com a equipe de saúde bucal. “Além de reforçar os cuidados nela própria, a gestante aprende a planejar os cuidados com a saúde bucal do futuro bebê”, diz Ana Cristina Allegretti. 

A adolescência, pondera Ana, é outra oportunidade para atrair a freqüência da garotada ao consultório. “É o momento da vaidade, de querer estar com os dentes bonitos e o hálito agradável, e que procuramos aproveitar ao máximo para que os jovens vejam saúde bucal como sinônimo de prevenção e cuidado com a saúde geral”, conclui.